quinta-feira, 6 de setembro de 2012

The Tall Man, mais polêmica ao redor de Laugier



Divisor de opiniões. Essa característica, por si só, já é capaz de depor a favor de um filme.

Quando procurei pelas críticas de The Tall Man, fiquei ainda mais intrigada do que ao conhecer a identidade dos seus responsáveis. Dezenas de espectadores indignados lotavam páginas, empenhados em trucidar a produção, apontando desde falhas reais (como a classificação da história no gênero de Terror) até argumentos frouxos e nonsense - perdão pela ironia -, como o ritmo menos corrido da narrativa.

Trata-se de um filme de 1:45m de duração. E eu posso afirmar, berrar e assinar embaixo, que, em nenhum momento da história, eu me senti menos estimulada. Simplesmente porque The Tall Man domina a arte de substituir as cenas de ação por uma narrativa focada, sensata e repleta de notável sensibilidade. Não que não hajam cenas de ação. Longe disso, o filme exibe muitas delas! Mas há uma preocupação evidente em centrar no desenrolo deste novelo de raciocínio lógico, onde cada explicação precede outra, outra e mais outra, até o grande clímax e o final primoroso.

Lançado em 2012, o filme de Pascal Laugier, mesmo diretor de Mártires (minha mais recente paixão gore), e com Jessica Biel no elenco, colocou um ponto de interrogação gigante na cabeça dos espectadores, acostumados desde sempre com enigmas facilmente decifráveis e resoluções tipicamente americanas.

É com prazer que digo que The Tall Man é um filme americano com ar europeu. E sem querer cair no erro de exaltar sem fundamento o material do outro lado do oceano, peço permissão para me explicar. É que com todos os ingredientes, o enredo e o contexto, o filme estaria a um passo de despencar no imenso buraco negro que é o tão comentado clichê. A começar por sua história.

Julia Denning, muito bem interpretada por Jessica Biel, é a médica da pequena cidade de Cold Rock, tendo recebido este legado de herança do falecido marido, o antigo médico do lugar. Doce e amável com seus pacientes e vizinhos, e uma mãe carinhosa para o pequeno David, ela tem sua vida virada do avesso quando o filho é sequestrado por ninguém mais ninguém menos que a lenda da cidade. O Homem Alto (daí o título curioso do filme) é o suposto responsável pelo desaparecimento de outras dezessete crianças, cujo paradeiro até o momento não foi descoberto. Entrando para as estatísticas da cidade, Julia sofre a perda do menino.

Mas nós não temos tempo de sofrer junto. Em uma reviravolta surpreendente - e de tirar o fôlego, como toda boa reviravolta deve ser -, papéis se invertem, tramas são reveladas, e novos mistérios são introduzidos no lugar dos que são revelados.

Não vou ser simpática ao ponto de vedar as falhas do filme. Existem falhas. Talvez a maior delas seja a forma como alguns por ques são respondidos, com seus personagens falando, falando e falando sobre o assunto. Talvez mais interessante fosse mostrar certas coisas em vez de dialogar sobre elas ponto a ponto. Nesse ponto o filme peca, caindo mais para o banalizado cinema de horror de Hollywood, e se afastando do europeu com seus vácuos interessantes e obscuros.

A escolha pelo estilo de narrativa também pode assustar. Lembra certos filmes based on Stephen King, especialmente no início, onde a vida em Cold Rock é colocada em relevo com suas nuances de cidade pequena. Ao meu ver, no entanto, esses detalhes prezam - com êxito nisso! - em destacar o filme no meio de uma gama de produções sempre gêmeas.

The Tall Man é o tipo de história que nos leva a pensar. E talvez por isso não tenha agradado tanto. Trata-se de um quebra-cabeças gigante, frustrando quem achar que pode levar um mistério hollywoodiano, solucionado e embalado para presente, para apreciar a distância. Este não é, de forma alguma, um filme para se apreciar a distância. Mas para se envolver. É um convite a percorrer a mente de uma cidade pequena, com todas as suas típicas neuroses e costumes - alguns simples, outros bárbaros - e tirar suas próprias conclusões sobre pessoas - as mais simples e as mais complexas. Arriscar-se a definir o que é certo e errado.

Como o próprio filme diz: não trata-se de ser bom ou mau, mas como lidar com isso.



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